8
Por: Bruno Cassiano
Foi num domingo, 20 de agosto de 78, que Sócrates entrou em campo pela primeira vez vestindo o manto alvinegro do Corinthians. As mais de 117 mil pessoas presentes no Morumbi provavelmente já o conheciam, mas nem sequer imaginavam o tamanho que o homem alto e cabeludo teria na história do Timão, do brasileiro e do mundo. Na ocasião, o clássico terminou empatado em 1x1.
A partir daí nascia uma relação de amor entre jogador e clube que faria um ser sinônimo do outro (e vice-versa). Magrão era praticamente o espírito do Corinthiano em campo, era o décimo segundo jogador mesmo o jogo só permitindo 11. Era a junção do jogador no exercício de seu ofício e daquele torcedor de arquibancada. Sócrates era o Corinthians.
Foi quem mais soube definir o clube, quem mais conseguia ver a importância e a representatividade da instituição para além das quatro linhas e das fronteiras do Parque São Jorge. Sabia para quem jogava e o que significava uma vitória do Corinthians para um povo tão sofrido e batalhador que é, até hoje, o seu torcedor. E assim foi até seu último passe de calcanhar e até suas últimas palavras ao falar do Corinthians.
Para o mundo, de forma justa, a camisa mais importante é a 10, aquela que o maior de todos os tempos usou e fez com que gerações após ele também sonhassem usar. Mas para o torcedor Corinthiano um número tem mais importância do que qualquer outro, até mesmo que o 10. Para nós a 8 é mística, graças e por causa do Sócrates. Só nós sabemos o quanto amamos esse número.
Quis o destino, para sorte de quem é Corinthians ou de quem só ama o futebol, que o número encontrasse Renato Augusto, que encontrasse Diany e que tanto jogador quanto a jogadora usassem o número místico em um mesmo momento. Poucos e poucas mereceram herdar o número mais pesado de uma camisa que também não é leve. Poucos e poucas conseguiram e conseguiriam honrar tanto o legado de um dos maiores artistas da bola.
Digo artista, pois é poesia, é ritmo, é música e também é futebol. Não pode ser diferente. É quase como uma regra implícita, um acordo silencioso entre as forças do universo e o sagrado preto no branco ou preto com riscas brancas. Quem usa a 8 tem que ser assim. Tem que ter algo a mais do que o feijão com arroz, tem que saber que além do possível para a maioria dos mortais, terá que experimentar um pouco do impossível também…
Quem é escolhido pela 8 tem que saber do seu papel e de sua importância, do peso e de suas responsabilidades. Da história daqueles que vieram antes e a escrita de sua própria história para aqueles que irão vir depois. Tem que ter um pézinho na crença da perfeição na numerologia, da máxima simetria… Assim como os chineses, tem que saber que mesmo fazendo por merecer a escolha, usar esse número é sinônimo de sorte e prosperidade. Acima de tudo tem que saber que significa infinito… Tal qual o homem responsável por nos fazer ter esse elo com o 8.
Desfrutemos enquanto é tempo essa honra. E que sejamos gratos a Sócrates, o doutor, a Renato Augusto e a Diany por darem continuidade nessa mística e amor.